27 de janeiro de 2024

Interculturalidade: Equidade x Desigualdade no contexto educacional

 

Problematização: Interculturalidade


A problemática das diferenças culturais é complexa com múltiplas visões especialmente provocando tensões e reações de intolerância nos movimentos sociais num crescente quadro de iniquidade. Neste contexto procuramos encontrar através da educação intercultural um potencial para a equidade visando equilibrar e compreender diferentes contextos na escola. A existência das desigualdades, por vezes, separa as pessoas de um caminho mais equitativo.

A interculturalidade tem lugar quando duas ou mais culturas entram em interação de uma forma horizontal e simultânea. Portanto, nenhum dos grupos se deve encontrar acima de qualquer outro que seja, favorecendo assim a integração e a convivência das pessoas. Para tal tipo de relações interculturais implica mobilizar práticas educativas que visem uma educação crítica tendo como horizonte a reinvenção da escola. Se partirmos da premissa que o ser humano é composto por aspectos culturais diversos, que fazem parte da sua realidade e que estão inseridos no contexto escolar com suas múltiplas perspectivas, as vivências que estabelecemos em interação com vários grupos culturais podem contribuir de forma significativa para a mudança das regras estabelecidas pela visão unilateral e engessada da educação monocultural.

 

Enfoque teórico: como a escola pública lida com as especificidades do ensino fundamental quanto a equidade x desigualdade?


Partindo da perspectiva que Candau (2012, p.127) define o foco da interculturalidade crítica:


[...] questionar as diferenças e desigualdades construídas ao longo da história entre diferentes grupos socioculturais, étnico-raciais, de gênero, de orientação sexual, religioso, entre outros. Parte-se da afirmação de que a interculturalidade aponta a construção de sociedade que assumam as diferenças como construtivas da democracia que sejam capazes de construir relações novas, verdadeiramente igualitárias entre os diferentes grupos socioculturais, o que supõe empoderar aqueles que foram historicamente inferiorizados.


A escola atual, está inserida em um mundo cada vez mais sofisticado e exigente onde a sociedade se transforma rapidamente e que está marcada fortemente por movimentos que combatem as desigualdades em todos os sentidos. Portanto, se vê frente a grandes desafios para que possa realizar, de fato, uma educação intercultural e atender as tais finalidades no âmbito da educação escolar. A inclusão e aceitação das diversas camadas sociais e bagagens culturais não é feita de forma plural, mas têm tentado resgatá-las e integrá-las a todas as camadas, porém ainda há muito para se caminhar neste sentido.  Nas Declarações Universais da UNESCO, a instituição aborda o assunto ao falar que é “direito de todos os grupos humanos à identidade cultural e ao desenvolvimento da sua própria vida cultural no contexto nacional e internacional” (UNESCO, 1978, p.4), mas na prática isso nem sempre tem ocorrido.

As diferenças não são obstáculos para o cumprimento da ação educativa; podem e devem, portanto, ser fator de enriquecimento. Contraditoriamente, as políticas educativas estão fundadas no entendimento de que existe uma identidade nacional, construída a partir da ideia de um Estado-Nação. Daí o caráter monocultural da educação universalista que prevalece nos currículos escolares, e que pressupõe que todos/as compartilhem igualmente de uma mesma cultura. Assim, por meio de uma ação homogeneizadora a educação escolar, com frequência, ignora ou cala as diferenças culturais e reforça as desigualdades sociais. Diante deste cenário propomos caminhos para lidar e oportunizar o desenvolvimento de práticas entre disciplinas, fortalecendo a concepção de currículo integrado que visa a formação humana integral do sujeito.

 

Eficácia e a ineficácia da interculturalidade no âmbito escolar


Na perspectiva intercultural, a educação não é vista apenas como transmissão de informações de um indivíduo para outro, mas como uma construção de processos em que os diferentes sujeitos desenvolvem relações de reciprocidade, tanto conflituais como cooperativas.  A instituição escolar parece ter dificuldade em reconhecer que grande parte da população não se enquadra nos parâmetros determinados por uma concepção universalista de cultura. Como as políticas educacionais ainda não se mostraram eficazes no que se refere a implementar uma educação escolar voltada para a diversidade cultural e social, os menos favorecidos não conseguem adaptar-se à escola, já que nela seus valores e saberes não são aceitos nem validados.

Ainda não existem muitos novos tipos de exercícios para o aprendizado intercultural, que levam em consideração a mudança teórica e as abordagens bem fundamentadas, modelos dimensionais ou suposições padronizadas, sendo dificilmente compatíveis aos novos paradigmas. O mesmo é aplicável às encenações e simulações com duas culturas construídas de formas diferentes representadas como se fossem homogêneas. Lidar de maneira construtiva com situações de incerteza e insegurança, propicia refletir sobre as perspectivas e ações correspondentes. Compreender as diferenças quanto ao seu potencial de chances, e desenvolvendo a consciência nas atuações interculturais através de diferentes competências idiomáticas. A escola deve romper a consolidação das culturas dominantes e abordar a interculturalidade de modo a reconhecer as necessidades da identidade pessoal, tomando referência para o outro. Portanto, a formação de docentes, políticas educativas, implementação de currículo, didática devem fazer parte dessa mudança.  A eficácia de uma nova educação baseada na educação Intercultural se dará com a transformação de vários fatores, principalmente seguindo o caminho contrário da supremacia e relações de desigualdades. 

 

MAPA CONCEITUAL




FONTE: elaboração própria (2022)

 

 

 

Sujeitos atores


As relações entre as comunicações e as organizações governamentais, tem sido marcada nesta última década na construção de conceitos cibernéticos e da globalização, essa relação influenciou no campo de informações ligadas à interculturalidade.

Esse processo está em completo movimento, ou seja, pode ser entendido e percebido pela participação do sujeito ou dos sujeitos evidenciando na prática processual os atores dos diálogos formais e da realidade concreta e globalizada.

Na realidade, de qual forma a interculturalidade pode ser percebida como um processo inerente ao contexto educativo? Podemos evidenciar a presença desses sujeitos através de projetos desenvolvidos e seus diálogos nos processos interculturais.

A professora M. Marchiori (2015 como citado por Lívia Barbosa e Leticia Veloso, (2009 p. 167) reflete que:


[...] conectar interculturalidade e globalização e de se compreender seu impacto na sociedade e também nas relações interpessoais, observamos que esse olhar sobre a interculturalidade remete às questões do diálogo e do entendimento para ação, principalmente no sentido de evidenciar a atuação de negócios nesse mundo mais globalizado. Segundo as quais, tanto no aspecto micro quanto no macro, a interculturalidade está justamente em como fazer sentido para os sujeitos que se encontram naquele determinado processo.


As culturas não podem ser diferenciadas entre si e nem em si são homogêneas. Elas se definem por meios de relações dinâmicas e interações entre pessoas, construindo novos cenários no qual formam sua identidade independentemente estreita ou distante seja a sua relação.

 

Políticas públicas


Essas ações e programas são desenvolvidas pelo governo e servem para garantir e colocar em prática direitos que são previstos pela constituição. A política pública tem a influência no espaço educacional através dos seus programas educacionais, que visa desconstruir espaços homogeneizados no qual é responsável por excluir grandes parcelas de alunos não familiarizados com a cultura por ela veiculada. No entanto, as mesmas diretrizes curriculares propostas para as escolas, pelo sistema educacional não contemplam as necessidades e expectativas para uma implementação intercultural democrática. 

Um dos grandes desafios da escola e a diversidade é a maneira na qual deve-se atuar, com heterogeneidade, no sentido de legitimar a valorização do outro.

Vanilda Alves da Silva e Flavinês Rebolo (2017 como citado por Serpa A. 2011 pp.154-155) chama atenção para a necessidade de se pensar um outro modelo de escola:

 

[...] que seja fruto não de um projeto iluminado, de modelos importados, ou de soluções miraculosas. Mas uma escola tecida por uma rede de saberes, onde o aprendizado não seja apenas um objetivo final a ser alcançado, mas o próprio percurso percorrido. Defendo uma escola pensada não para sujeitos, mas pelos sujeitos. [...] Sujeito que não vive e que não narra sozinho, mas que traz consigo – e em si – as muitas vozes e suas experiências que narram também.

 

Uma escola que se reconheça além dos sujeitos e que se permita serem protagonistas de sua própria história. Reconhecer a Interculturalidade como processo dinâmico, contribuindo para uma educação de vai além dos muros da escola.  

 

Saberes e conhecimentos


Na área da educação, sempre fomos marcados por conflitos e manifestações das diversidades dos saberes e dos conhecimentos apresentados numa concepção epistemológica em torno da natureza, etapa e dos limites do conhecimento humano. Métodos e postulados de diferentes ramos do conhecimento e de pedagogias monoculturais. A ideia central contribui para a elaboração de outras formas de pensar o conhecimento científico, interpretando e encaminhando políticas e práticas pedagógicas, com o intuito de recriar, na vivência escolar, novos olhares frente à diversidade humana e cultural. Assim podemos compreender as múltiplas temáticas da educação e da interculturalidade, apresentando conhecimentos, saberes e perspectivas para práticas pedagógicas.  A interculturalidade impulsiona processos dinâmicos em várias direções, cheios de criatividade em permanente construção. Processos sólidos nos diversos universos socioculturais atuais, caracterizados por relações de poder e pelas grandes desigualdades sociais, políticas e econômicas. Este talvez seja o maior desafio da interculturalidade e também da educação intercultural, não camuflar as desigualdades, as contradições e conflitos das sociedades atuais, mas trabalhar com e intervir neles.

 

Práticas pedagógicas


Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2020) articulada na construção de conhecimentos e em suas competências gerais da educação básica busca afirmar valores e estimular ações que contribuam para sociedade. Neste sentido é importante destacar a sexta competência:

Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

A perspectiva intercultural pretende construir uma educação capaz de compreender a complexidade das interações humanas, superar preconceitos e exclusão sociocultural e criar condições para que haja crescimento de todos os indivíduos e seus respectivos grupos, promovendo mudanças profundas na educação: currículo, metodologias, técnicas, instrumentos pedagógicos, formação de professores e quadros administrativos. A educação Intercultural se dá através das relações e laços construídos com o outro, com a convivência cotidiana, dos vínculos, valores, costumes e o desapego de suas culturas, é uma desconstrução dos padrões culturais. É o reconhecimento que torna possível a interculturalidade, na medida em que a compreensão e valorização das diferenças possibilita o enriquecimento e a autocriação recíproca. Para pôr em prática esses preceitos, o professor precisará acolher as diversas culturas que se expressam nas instituições escolares, precisará acolher as histórias de vida, as crenças, os valores e a experiência dos alunos, e aprender a lidar com as diferenças e os conflitos.

 

Conclusão


O desafio da Educação Intercultural está no fato de ser um processo entre sujeito-sujeito. É necessário que se desenvolva uma relação que possibilite “um processo dinâmico e permanente de comunicação e aprendizagem entre culturas em condição de respeito, legitimidade mútua, simetria e igualdade”, que proporcione ainda uma troca, ou um intercâmbio que possa ser construído entre essas diferentes pessoas e seus conhecimentos, saberes e práticas culturalmente diferentes, buscando desenvolver um novo sentido entre elas na sua diferença, um espaço de negociação e de tradução onde as desigualdades sociais, econômicas e políticas, e as relações e os conflitos de poder da sociedade não são mantidos ocultos e sim reconhecidos e confrontados. Somente através da relação entre os diferentes sujeitos e o respeito mútuo às suas culturas e histórias, é que as visões etnocêntricas de superioridade de credos, classes sociais e raças poderão ficar para trás, onde a escola como meio social possa vir a ser multiplicadora de uma cultura organizacional intercultural que venha promover discussões democráticas e soluções de conflito.




Givanildo Pereira Moura

Natural de São Paulo - SP - Formado em Matemática pela UNICID e em Pedagogia pela FAMOSP,  Mestre em Educação com especialização em Gestão Escolar pela FUNIBER

 

Janaina Guilherme da Silva

Natural de Joinville – SC – Formada em Pedagogia pela ACE, Pós graduada em Educação infantil e Séries iniciais pela UNIVILLE e Mestranda em Educação com especialização em Gestão Escolar pela FUNIBER

 

José Henrique Soares Ferreira

Natural de Barbacena – MG – Formado em Matemática pela UNIPAC, Pós graduado em Matemática e estatística pela UFL e Pós graduado em Física pela UFV e Mestre em Educação com especialização em Gestão Escolar pela FUNIBER

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