Problematização:
Interculturalidade
A problemática das diferenças culturais é complexa com
múltiplas visões especialmente provocando tensões e reações de intolerância nos
movimentos sociais num crescente quadro de iniquidade. Neste contexto
procuramos encontrar através da educação intercultural um potencial para a
equidade visando equilibrar e compreender diferentes contextos na escola. A
existência das desigualdades, por vezes, separa as pessoas de um caminho mais
equitativo.
A interculturalidade tem lugar quando duas ou mais
culturas entram em interação de uma forma horizontal e simultânea. Portanto,
nenhum dos grupos se deve encontrar acima de qualquer outro que seja,
favorecendo assim a integração e a convivência das pessoas. Para tal tipo de
relações interculturais implica mobilizar práticas educativas que visem uma
educação crítica tendo como horizonte a reinvenção da escola. Se partirmos da
premissa que o ser humano é composto por aspectos culturais diversos, que fazem
parte da sua realidade e que estão inseridos no contexto escolar com suas
múltiplas perspectivas, as vivências que estabelecemos em interação com vários
grupos culturais podem contribuir de forma significativa para a mudança das
regras estabelecidas pela visão unilateral e engessada da educação
monocultural.
Enfoque teórico:
como a escola pública lida com as especificidades do ensino fundamental quanto
a equidade x desigualdade?
Partindo da perspectiva que Candau (2012, p.127) define
o foco da interculturalidade crítica:
[...] questionar as diferenças e desigualdades
construídas ao longo da história entre diferentes grupos socioculturais,
étnico-raciais, de gênero, de orientação sexual, religioso, entre outros.
Parte-se da afirmação de que a interculturalidade aponta a construção de
sociedade que assumam as diferenças como construtivas da democracia que sejam
capazes de construir relações novas, verdadeiramente igualitárias entre os
diferentes grupos socioculturais, o que supõe empoderar aqueles que foram
historicamente inferiorizados.
A escola atual, está inserida em um mundo cada vez mais
sofisticado e exigente onde a sociedade se transforma rapidamente e que está
marcada fortemente por movimentos que combatem as desigualdades em todos os
sentidos. Portanto, se vê frente a grandes desafios para que possa realizar, de
fato, uma educação intercultural e atender as tais finalidades no âmbito da
educação escolar. A inclusão e aceitação das diversas camadas sociais e
bagagens culturais não é feita de forma plural, mas têm tentado resgatá-las e
integrá-las a todas as camadas, porém ainda há muito para se caminhar neste
sentido. Nas Declarações Universais da
UNESCO, a instituição aborda o assunto ao falar que é “direito de todos os grupos humanos à identidade cultural e ao
desenvolvimento da sua própria vida cultural no contexto nacional e
internacional” (UNESCO, 1978, p.4), mas na prática isso nem sempre tem
ocorrido.
As diferenças não são obstáculos para o cumprimento da
ação educativa; podem e devem, portanto, ser fator de enriquecimento.
Contraditoriamente, as políticas educativas estão fundadas no entendimento de
que existe uma identidade nacional, construída a partir da ideia de um
Estado-Nação. Daí o caráter monocultural da educação universalista que
prevalece nos currículos escolares, e que pressupõe que todos/as compartilhem
igualmente de uma mesma cultura. Assim, por meio de uma ação homogeneizadora a
educação escolar, com frequência, ignora ou cala as diferenças culturais e
reforça as desigualdades sociais. Diante deste cenário propomos caminhos para
lidar e oportunizar o desenvolvimento de práticas entre disciplinas,
fortalecendo a concepção de currículo integrado que visa a formação humana
integral do sujeito.
Eficácia e a
ineficácia da interculturalidade no âmbito escolar
Na perspectiva intercultural, a educação não é vista
apenas como transmissão de informações de um indivíduo para outro, mas como uma
construção de processos em que os diferentes sujeitos desenvolvem relações de
reciprocidade, tanto conflituais como cooperativas. A instituição escolar parece ter dificuldade
em reconhecer que grande parte da população não se enquadra nos parâmetros
determinados por uma concepção universalista de cultura. Como as políticas
educacionais ainda não se mostraram eficazes no que se refere a implementar uma
educação escolar voltada para a diversidade cultural e social, os menos
favorecidos não conseguem adaptar-se à escola, já que nela seus valores e
saberes não são aceitos nem validados.
Ainda não existem muitos novos tipos de exercícios para
o aprendizado intercultural, que levam em consideração a mudança teórica e as
abordagens bem fundamentadas, modelos dimensionais ou suposições padronizadas,
sendo dificilmente compatíveis aos novos paradigmas. O mesmo é aplicável às
encenações e simulações com duas culturas construídas de formas diferentes
representadas como se fossem homogêneas. Lidar de maneira construtiva com
situações de incerteza e insegurança, propicia refletir sobre as perspectivas e
ações correspondentes. Compreender as diferenças quanto ao seu potencial de
chances, e desenvolvendo a consciência nas atuações interculturais através de
diferentes competências idiomáticas. A escola deve romper a consolidação das
culturas dominantes e abordar a interculturalidade de modo a reconhecer as
necessidades da identidade pessoal, tomando referência para o outro. Portanto,
a formação de docentes, políticas educativas, implementação de currículo,
didática devem fazer parte dessa mudança. A eficácia de uma nova educação
baseada na educação Intercultural se dará com a transformação de vários
fatores, principalmente seguindo o caminho contrário da supremacia e relações
de desigualdades.
MAPA CONCEITUAL
FONTE: elaboração própria (2022)
Sujeitos atores
As relações entre as comunicações e as organizações
governamentais, tem sido marcada nesta última década na construção de conceitos
cibernéticos e da globalização, essa relação influenciou no campo de
informações ligadas à interculturalidade.
Esse processo está em completo movimento, ou seja, pode
ser entendido e percebido pela participação do sujeito ou dos sujeitos
evidenciando na prática processual os atores dos diálogos formais e da
realidade concreta e globalizada.
Na realidade, de qual forma a interculturalidade pode
ser percebida como um processo inerente ao contexto educativo? Podemos
evidenciar a presença desses sujeitos através de projetos desenvolvidos e seus
diálogos nos processos interculturais.
A professora M. Marchiori (2015 como citado por Lívia
Barbosa e Leticia Veloso, (2009 p. 167) reflete que:
[...] conectar interculturalidade e globalização e de se
compreender seu impacto na sociedade e também nas relações interpessoais,
observamos que esse olhar sobre a interculturalidade remete às questões do
diálogo e do entendimento para ação, principalmente no sentido de evidenciar a
atuação de negócios nesse mundo mais globalizado. Segundo as quais, tanto no
aspecto micro quanto no macro, a interculturalidade está justamente em como
fazer sentido para os sujeitos que se encontram naquele determinado processo.
As culturas não podem ser diferenciadas entre si e nem
em si são homogêneas. Elas se definem por meios de relações dinâmicas e
interações entre pessoas, construindo novos cenários no qual formam sua
identidade independentemente estreita ou distante seja a sua relação.
Políticas
públicas
Essas ações e programas são desenvolvidas pelo governo e servem para garantir e colocar em prática direitos que são previstos pela constituição. A política pública tem a influência no espaço educacional através dos seus programas educacionais, que visa desconstruir espaços homogeneizados no qual é responsável por excluir grandes parcelas de alunos não familiarizados com a cultura por ela veiculada. No entanto, as mesmas diretrizes curriculares propostas para as escolas, pelo sistema educacional não contemplam as necessidades e expectativas para uma implementação intercultural democrática.
Um dos grandes desafios da escola e a diversidade é a
maneira na qual deve-se atuar, com heterogeneidade, no sentido de legitimar a
valorização do outro.
Vanilda Alves da Silva e Flavinês Rebolo (2017 como citado por Serpa A. 2011 pp.154-155) chama atenção para a necessidade de se pensar um outro modelo de escola:
[...] que seja fruto não de um projeto iluminado, de
modelos importados, ou de soluções miraculosas. Mas uma escola tecida por uma
rede de saberes, onde o aprendizado não seja apenas um objetivo final a ser
alcançado, mas o próprio percurso percorrido. Defendo uma escola pensada não
para sujeitos, mas pelos sujeitos. [...] Sujeito que não vive e que não narra
sozinho, mas que traz consigo – e em si – as muitas vozes e suas experiências
que narram também.
Uma escola que se reconheça além dos sujeitos e que se
permita serem protagonistas de sua própria história. Reconhecer a
Interculturalidade como processo dinâmico, contribuindo para uma educação de
vai além dos muros da escola.
Saberes e
conhecimentos
Na área da educação, sempre fomos marcados por conflitos e manifestações das diversidades dos saberes e dos conhecimentos apresentados numa concepção epistemológica em torno da natureza, etapa e dos limites do conhecimento humano. Métodos e postulados de diferentes ramos do conhecimento e de pedagogias monoculturais. A ideia central contribui para a elaboração de outras formas de pensar o conhecimento científico, interpretando e encaminhando políticas e práticas pedagógicas, com o intuito de recriar, na vivência escolar, novos olhares frente à diversidade humana e cultural. Assim podemos compreender as múltiplas temáticas da educação e da interculturalidade, apresentando conhecimentos, saberes e perspectivas para práticas pedagógicas. A interculturalidade impulsiona processos dinâmicos em várias direções, cheios de criatividade em permanente construção. Processos sólidos nos diversos universos socioculturais atuais, caracterizados por relações de poder e pelas grandes desigualdades sociais, políticas e econômicas. Este talvez seja o maior desafio da interculturalidade e também da educação intercultural, não camuflar as desigualdades, as contradições e conflitos das sociedades atuais, mas trabalhar com e intervir neles.
Práticas
pedagógicas
Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2020)
articulada na construção de conhecimentos e em suas competências gerais da
educação básica busca afirmar valores e estimular ações que contribuam para
sociedade. Neste sentido é importante destacar a sexta competência:
Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais
e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as
relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício
da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência
crítica e responsabilidade.
A perspectiva intercultural pretende construir uma
educação capaz de compreender a complexidade das interações humanas, superar
preconceitos e exclusão sociocultural e criar condições para que haja
crescimento de todos os indivíduos e seus respectivos grupos, promovendo
mudanças profundas na educação: currículo, metodologias, técnicas, instrumentos
pedagógicos, formação de professores e quadros administrativos. A educação
Intercultural se dá através das relações e laços construídos com o outro, com a
convivência cotidiana, dos vínculos, valores, costumes e o desapego de suas
culturas, é uma desconstrução dos padrões culturais. É o reconhecimento que
torna possível a interculturalidade, na medida em que a compreensão e
valorização das diferenças possibilita o enriquecimento e a autocriação
recíproca. Para pôr em prática esses preceitos, o professor precisará acolher
as diversas culturas que se expressam nas instituições escolares, precisará
acolher as histórias de vida, as crenças, os valores e a experiência dos
alunos, e aprender a lidar com as diferenças e os conflitos.
Conclusão
O desafio da Educação Intercultural está no fato de ser um processo entre sujeito-sujeito. É necessário que se desenvolva uma relação que possibilite “um processo dinâmico e permanente de comunicação e aprendizagem entre culturas em condição de respeito, legitimidade mútua, simetria e igualdade”, que proporcione ainda uma troca, ou um intercâmbio que possa ser construído entre essas diferentes pessoas e seus conhecimentos, saberes e práticas culturalmente diferentes, buscando desenvolver um novo sentido entre elas na sua diferença, um espaço de negociação e de tradução onde as desigualdades sociais, econômicas e políticas, e as relações e os conflitos de poder da sociedade não são mantidos ocultos e sim reconhecidos e confrontados. Somente através da relação entre os diferentes sujeitos e o respeito mútuo às suas culturas e histórias, é que as visões etnocêntricas de superioridade de credos, classes sociais e raças poderão ficar para trás, onde a escola como meio social possa vir a ser multiplicadora de uma cultura organizacional intercultural que venha promover discussões democráticas e soluções de conflito.
Givanildo Pereira Moura
Natural de São Paulo - SP - Formado em Matemática pela UNICID e em Pedagogia pela FAMOSP, Mestre em Educação com especialização em Gestão Escolar pela FUNIBER
Janaina Guilherme da Silva
Natural de Joinville – SC – Formada em Pedagogia pela ACE, Pós graduada em Educação infantil e Séries iniciais pela UNIVILLE e Mestranda em Educação com especialização em Gestão Escolar pela FUNIBER
José Henrique Soares Ferreira
Natural de Barbacena – MG – Formado em Matemática pela UNIPAC, Pós graduado em Matemática e estatística pela UFL e Pós graduado em Física pela UFV e Mestre em Educação com especialização em Gestão Escolar pela FUNIBER